Bullying Existe

“Você não sabe o que o outro passa e por isso não pode prever o prejuízo que a sua “brincadeira” vai causar.”
Sabe aquela brincadeirinha boba que a gente faz com os colegas, insistente, geralmente de forma pública, expondo ao ridículo, sem respeitar ou perceber limite de parar e que nem deveria ser feita? Pois é, certamente você já fez isso com alguém, já sofreu isso ou conhece alguém que provocou ou sofreu.

Há cerca de 20 anos, quando se passou a história que irei relatar a seguir, não existia o termo Bullying, uma palavra americana que significa Intimidação, utilizada para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Dito isso, vamos ao que interessa.

Em 1998, eu estudava na tradicional e conceituada Escola Liceu Muniz Freire, fazia o 1º ano do 2º Grau, pela manhã, numa turma com aproximadamente 40 alunos, pessoas de todos os tipos, gordos (eu rs...), magros, negros, brancos, ricos, pobres, bonzinhos, revoltados, bagunceiros, quietos, enfim uma pluralidade comum a uma sala de aula. Porém, um dos meus colegas, tinha um destaque diferente.

Nessa história, verídica, para evitar constrangimentos, vou chamá-lo de Tom, um adolescente muito quieto que se sentava na primeira fileira de cadeiras, na frente da mesa do professor, sempre ao lado de meninas, jamais entre os rapazes. Ele era quase albino, de média estatura e cabelos pretos cacheados, mas não era o comportamento ou a cor que chamavam a atenção e sim o mau cheiro. Ele sofria de uma espécie de bromidrose, mau odor crônico nas axilas, as aulas começavam às 7h, e nesse horário ele já estava exalando um cheiro fortíssimo, era difícil permanecer ao seu lado sem perceber aquele incômodo.

A turma percebeu logo nos primeiros dias o problema do Tom, porém entendíamos que era uma questão de higiene e, sabe como é a molecada né, a zoação rolava solta. Todos os dias eram enxurradas de piadas a respeito, um verdadeiro massacre de “brincadeiras”, teve dia de aparecer em sua mesa um vidro de desodorante, e por aí vai até que… Na volta das férias do meio do ano ele não retornou, a informação que circulava era de que havia se jogado na frente de um caminhão de lixo na tentativa de suicídio, e estava internado na UTI, depois não tive mais informações dele.

Eu contei esse drama do Tom para te dizer que Bullying existe, você não sabe o que o outro passa e por isso não pode prever o prejuízo que a sua “brincadeira” vai causar. Jamais vou esquecer esse episódio, principalmente porque eu era um dos que zoava. Hoje, ainda “brinco” com as pessoas, mas bem mais observador, para não ser causador ou incentivador da desgraça de alguém.